sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sadhana

Ambos os sentimentos estão corretos - eles indicam as duas necessidades do sadhana (disciplina). Um deles é ir para dentro e abrir completamente a conexão entre o ser psíquico e a natureza exterior. O outro é se abrir para a Paz, Força, Luz e Ananda Divinas acima, para ascender nelas e trazê-las para baixo, para dentro da natureza e do corpo. Nenhum destes dois movimentos, o psíquico e o espiritual, estão completos sem o outro. Se a ascensão espiritual e a descida não são feitas, a transformação espiritual da natureza não pode acontecer; se a abertura total e a conexão psíquica não são feitas, a transformação não pode ser completa.


Não há nenhuma incompatibilidade entre os dois movimentos; alguns começam com o psíquico antes, outros o espiritual em primeiro lugar, e alguns trabalham ambos juntos. A melhor maneira é aspirar por ambos e deixar a Força da Mãe trabalhar de acordo com a necessidade e a transformação da natureza.
 
Sri Aurobindo
 
28/09/1936 - Correspondências com Sri Aurobindo (Nirodbaran)

domingo, 6 de dezembro de 2009

A verdadeira Alma

Doce Mãe, aqui Sri Aurobindo disse: “Se a alma mais interior é despertada, se houver um novo nascimento a partir das meras consciências mental, vital e física em uma consciência psíquica, então este Yoga pode ser feito...”. Porque ele disse “a alma mais interior”? Existe uma alma superficial?


É porque essa alma mais interior, ou seja, o ser psíquico central, influencia as partes superficiais da consciência (superficiais em comparação com ela: partes mentais, partes vitais). A mente mais pura, o vital mais elevado, o ser emocional – a alma os influencia, os influencia de uma maneira em que se tem a impressão de entrar em contato com ela através dessas partes do ser. Então as pessoas tomam essas partes como se fossem a alma e é por isso que ele diz: “a alma mais interior”, ou seja, a alma central, a alma real.


Frequentemente, quando se entra em contato com certas partes da mente que estão sob a influência psíquica e cheias de luz e da alegria dessa luz, ou quando se entra em contato com certas partes muito puras e muito elevadas do ser emocional, que possui as emoções mais generosas, mais desinteressadas, tem-se também a impressão de estar em contato com a própria alma. Mas essa não é a verdadeira alma, não é a alma em sua verdadeira essência. Existem partes do ser sob sua influência e manifestando algo dela. Então, frequentemente as pessoas entram em contato com essas partes e isso às proporciona iluminações, grande alegria, revelações, e elas sentem que encontraram suas almas. Mas é somente a parte do ser sob sua influência, uma parte ou outra, pois... O que acontece exatamente é que se entra em contato com essas coisas, tem-se experiências, e então isto se torna velado, e a pessoa se questiona, “Como é que eu entrei em contato com minha alma e agora caí de volta nesse estado de ignorância e inconsciência!”. Mas isso é porque o contato não foi com a alma, foi com essas partes do ser que estão sob influência da alma e manifestam algo dela, mas não são ela.


Eu já disse muitas vezes que quando se entra em contato consciente com sua própria alma e a união é estabelecida, acabou, isso não pode ser desfeito, é algo permanente, constante, que resiste a tudo, e que, a qualquer momento, se ela for referenciada pode ser encontrada; ao passo que as outras coisas – pode-se ter experiências muito boas, e então elas se tornam veladas novamente, e a pessoa diz a si mesma, “Como isso aconteceu? Eu vi minha alma e agora eu não a encontro novamente!” Não foi a alma que a pessoa viu. E essas coisas são muito lindas e proporcionam experiências muito impressionantes, mas isto não é o contato com o ser psíquico propriamente dito.


O contato com o ser psíquico é definitivo, e é sobre isso que eu digo, quando as pessoas perguntam, “Eu possuo um contato com meu ser psíquico?”, “Sua pergunta por si só prova que você não o tem!”

A Mãe

domingo, 29 de novembro de 2009

Jivatman, Alma e Ser Psíquico

Jivatman, a centelha-alma e o ser psíquico são três formas distintas da mesma realidade e não devem ser misturados, pois isso confunde a clareza da experiência interior.
O Jivatman ou espírito, como é usualmente chamado em inglês, é auto-existente acima do ser manifesto ou instrumental - é superior ao nascimento e morte, sempre o mesmo, o Si ou Atman individual. Ele é o verdadeiro ser eterno do indivíduo.
A alma é uma centelha do Divino, que não está sentada acima do ser manifesto, mas desce até a manifestação para suportar sua evolução no mundo material. É em princípio um poder indiferenciado da consciência Divina contendo todas as possibilidades que ainda não tomaram forma, mas para a qual é função da evolução dar uma forma. Essa centelha está lá em todos os seres vivos do mais baixo ao mais elevado.
O Ser psíquico é formado pela alma em sua evolução. Ele suporta a mente, o vital e o corpo, cresce através de suas experiências, carrega a natureza de vida para vida. É o Ser Psíquico ou Chaitya Purusha. No princípio, ele está velado pela mente, pelo vital e pelo corpo, mas conforme ele cresce, se torna capaz de vir a frente e dominar mente, vida e corpo; no homem comum, ele depende deles para sua expressão e não é capaz de tomá-los e utilizá-los livremente. A vida do ser é animal ou humana e não divina. Quando o ser psíquico consegue através do sadhana (disciplina espiritual) se tornar dominante e livremente utilizar seus instrumentos, então o impulso em direção ao Divino se torna completo e a transformação da mente, do vital e do corpo, não meramente a libertação deles, se torna possível.
O Si do Atman sendo livre e superior ao nascimento e morte, a experiência do Jivatman e sua união com o Si supremo ou universal traz o senso de liberação, e é isso que é necessário para a suprema libertação espiritual: mas para a transformação da vida e da natureza o despertar do ser psíquico e sua maestria sobre a natureza são indispensáveis.
O ser psíquico percebe sua unidade com o verdadeiro ser, o Jivatman, mas não se transforma nele.
bindu visto acima pode ser uma forma simbólica de visualizar o Jivatman, a porção do Divino; A aspiração nesse ponto seria naturalmente pela abertura da consciência maior para que o ser possa habitar lá e não na Ignorância. O Jivatman já é uno com o Divino na realidade, mas o que é preciso é que o resto da consciência perceba isso.
A aspiração do ser psíquico é pela abertura de toda a natureza inferior, mente, vital, corpo para o Divino, pelo amor e união com a Divindade, por sua presença e poder dentro do coração, pela transformação da mente, vida e corpo através da descida da consciência maior neste ser instrumental e sua natureza.
Ambas as aspirações são essenciais e indispensáveis para a plenitude deste yoga. Quando o psíquico impõe sua aspiração à mente, ao vital e ao corpo, então eles também aspiram e é isso que é sentido como a aspiração no nível do ser inferior. A aspiração sentida acima é aquela do Jivatman pela consciência maior, com sua realização do Uno para se manifestar no ser. Portanto ambas as aspirações se ajudam mutuamente. A busca do ser inferior é necessariamente intermitente no início e oprimida pela consciência ordinária. Ela deve, através do sadhana, se tornar clara, constante, forte e persistente.

Sri Aurobindo

domingo, 22 de novembro de 2009

O significado do Ser Psíquico I

O que se pretende dizer na terminologia do yoga por psíquico é o elemento da alma na natureza, o puro núcleo psíquico ou divino que está por trás da mente, da vida e do corpo (não é o ego), mas do qual estamos vagamente cientes. É uma porção do Divino e permanente de vida para vida, recebendo a experiência da vida através de seus instrumentos exteriores. Conforme essa experiência cresce, se manifesta uma personalidade psíquica em desenvolvimento, que insistindo sempre no bem, no verdadeiro e no belo, finalmente se torna pronta e forte o suficiente para guiar a natureza em direção ao Divino. Ela pode então vir inteiramente à frente, atravessando as telas mentais, vitais, e físicas, governar os instintos e transformar a natureza. A natureza não mais se impõe à alma, mas a alma, o Purusha, impõe suas diretrizes à natureza.

Sri Aurobindo

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Savitri - Livro II, Canto 12 - Os Céus do Ideal

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Acima do espírito envolto em sentido mortal
Habitam reinos superconscientes de paz celestial,
Abaixo, o abismo turvo e rabugento do Inconsciente,
No meio, atrás de nossa vida, a Rosa imortal.
Através do ar coberto o espírito respira,
Um corpo da beleza e da alegria cósmica
Nunca visto, nunca suposto pelo cego mundo sofredor,
Escalando pelo profundo coração entregue da Natureza
Desabrocha para sempre aos pés de Deus,
Alimentado pelos mistérios sacrificiais da vida.
Aqui também seu botão floresce no seio humano;
Então por um toque, uma presença ou uma voz
O mundo se transforma em um templo
E tudo revela o desconhecido Amado.
Em uma explosão de alegria e tranquilidade celestiais
A vida se rende para a divindade dentro
E doa-se por completo em uma oferenda-extática,
E a alma se abre para a felicidade.
Uma beatitude é sentida que nunca pode cessar inteiramente,
Um repentino mistério da Graça secreta
Floresce dourando nossa terra vermelha de desejo.
Todos os elevados deuses que escondiam suas faces
Do ritual sujo e apaixonado de nossas esperanças,
Revelam seus nomes e poderes imortais.
Uma calma ardente desperta as células sonolentas,
Uma paixão da carne tornando-se espírito,
E maravilhosamente é cumprido afinal
O milagre para o qual nossa vida foi feita.
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